terça-feira, 17 de setembro de 2013
O problema está em casa
Chegando da pós-graduação, local de nascedouro deste Movimento, é tarde, sabemos. As mulheres que integram este movimento estão realmente em movimento. Estudam depois de formadas, trabalham, são mães e donas de casa. É muito, também sabemos. Daí a necessidade de adquirir não só mais conhecimento sobre o tempo, mas sabedoria sobre ele. Não conseguimos ainda. Sabemos até agora que é a moeda mais valiosa hoje em dia. Ser dona e senhora do seu tempo significa libertação. Ainda não chegamos lá. E assim, tarde, não podemos deixar para amanhã, pois, as horas de amanhã já estão orquestradas com outras tarefas, que roubamos estas horas para compartilhar, (este é o mote deste Blog), a matéria sobre o novo livro da historiadora Mary del Priore, Histórias e Conversas de Mulher:
"Nos últimos 20 anos um nó de contradições marcou o papel das mulheres na sociedade brasileira. Assim como as desigualdades sociais, as disparidades entre os sexos se acumulam, multiplicando os benefícios deles em detrimento das carências delas. Em casa, tarefas continuam compartilhadas desigualmente, embora surja zonas de negociação com o fogão e as compras."
"Nada de 'coitadismo'. Reclamar, dar-se à melancolia e pôr sempre a culpa 'neles' são hábitos que podem muito bem servir para encobrir contradições. O problema está em casa."
"Mary puxa a orelha de mulheres que incentivam estereótipos sobre a 'burrice feminina', daquelas coniventes com a propaganda sexista e com a vulgaridade da mídia. E não se incomodam que este modela encha a cabeça das filhas."
"As próprias mulheres contribuem - e muito - para a desvalorização grosseira das conquistas femininas. Podem até ser maioria no Censo, mas falta-lhes um projeto, uma agenda que as tire da mesmice e as arranque da apatia".
"No século 21, as ocidentais têm outra prisão: a imagem. Os homens olham as mulheres. E as mulheres se olham ser olhadas." (O problema está em casa, Estado de Minas, sábado, 14/9/13).
Em suma, partir para ser sujeito atuante e não objeto passivo ou alienado.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Profissões para mulheres por Virgínia Woolf
Virgínia Woolf leu esse texto para a Sociedade Nacional de Auxílio às Mulheres em 21/1/31
A pergunta de hoje é: o mundo mudou em 82 anos?
* Uma das romancistas mais inovadoras da líteratura inglesa (1882-1941) notabilizou-se também como precursora do feminismo contemporâneo.
Quando a secretária de vocês me convidou para vir aqui, ela me disse que esta sociedade atende à colocação profissional das mulheres e sugeriu que eu falasse um pouco sobre minhas experiências profissionais. Sou mulher, é verdade; tenho emprego, é verdade; mas que experiências profissionais tive eu? Difícil dizer. Minha profissão é a literatura; e é a profissão que, tirando o palco, menos experiência oferece às mulheres. (...)
Existe coisa mais fácil do que escrever artigos e comprar gatos persas com o pagamento? (...) E, quando eu estava escrevendo aquela resenha, descobri que, se fosse resenhar livros, ia ter de combater um certo fantasma. e o fantasma era uma mulher, e quando a conheci melhor, dei a ela o nome de "O Anjo do Lar". Era ela que me incomodava, tomava meu tempo e me atormentava tanto que no fim matei essa mulher. Vocês que são de uma geração mais jovem e mais feliz, talvez não tenham ouvido falar dela - talvez não saibam o que quero dizer com o Anjo do Lar. Vou tentar resumir. Ela era extremamente simpática. Imensamente encantadora. Totalmente altruísta. Excelente nas difíceis artes do convívio familiar. Sacrificava-se todos os dias. Se o almoço era frango, ela ficava com o pé; se havia ar encanado, era ali que ia se sentar - em suma, seu feitio era nunca ter opinião ou vontade própria, e preferia sempre concordar com as opiniões e vontades dos outros. E acima de tudo - nem preciso dizer - ela era pura. Sua pureza era tida como sua maior beleza - enrubescer era seu grande encanto. (...) Fiz de tudo para esganá-la. Minha desculpa, se tivesse de comparecer a um tribunal, seria legítima defesa. Se eu não a matasse, ela é que me mataria. arrancaria o coração de minha escrita. Pois, na hora em que pus a caneta no papel, percebi que não dá para fazer nem mesmo uma resenha sem ter opinião própria, sem dizer o que a gente pensa ser verdade nas relações humanas, na moral, no sexo. E, segundo o Anjo do Lar, as mulheres não podem tratar de nenhuma dessas questões com liberdade e franqueza; se querem se dar bem, elas precisam agradar, precisam conciliar, precisam - falando sem rodeios - mentir. (...) Demorou para morrer.
(...) Mesmo quando o caminho está nominalmente aberto - quando nada impede que uma mulher seja médica, advogada, funcionária pública-, são muitas, imagino eu, os fantasmas e obstáculos pelo caminho. Penso que é muito bom e importante discuti-los e defini-los, pois só assim é possível dividir o trabalho, resolver as dificuldades. Mas além disso, também é necessário discutir as metas e os fins pelos quais lutamos, pelos quais combatemos esses obstáculos tremendos. Não podemos achar que essas metas estão dadas; precisam ser questionadas e examinadas constantemente. (...)
(Woolf,
Virgínia*, Profissões para mulheres e outros artigos feministas,
tradução de Denise Bottmann;
Porto Alegre, RS, L&PM, 2012 , p. 9-18).
A pergunta de hoje é: o mundo mudou em 82 anos?
* Uma das romancistas mais inovadoras da líteratura inglesa (1882-1941) notabilizou-se também como precursora do feminismo contemporâneo.
No fórum hoje
A quem interessar possa. Conforme prometido distribuímos hoje a ação contra a instituição de ensino que deu uma abocanhada no nosso bolso, digo, reteve para si valores que entendemos indevidos.
Uma vez um escrevente me disse quando dei com os costados no cartório para despachar com o juiz uma liminar: rezou pouco, dra., para a ação cair aqui. Hoje a ação foi distribuída pelo sorteio do computador para a 27ª Vara Cível. Vamos ver e em conjunto, pois foi criado hoje, neste Blog, um mural desta ação ordinária, uma ação comum, para que nossos leitores possam acompanhar em tempo real a quantas anda a justiça de Minas Gerais.
A chacrinha (animação) na fila sentada chamou a atenção dos advogados em volta. É que a classe hoje no fórum estava decididamente desanimada e macambúzia. E não pensem que estão alienados. Não, sabem perfeitamente o motivo e lembram os autores, o então ministro da educação, Paulo Renato de Souza, a proliferação dos cursos de direito pelo país afora, excesso de advogados, escassez de demanda, resultado: a classe desanimada e macambúzia.
Por outro lado a fila grande da distribuição é bom sinal, significa trabalho para os advogados. A que preço, pensamos nós.
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