terça-feira, 24 de junho de 2014

Adeus à feminista Rose Muraro



Vídeo Itaú Cultural

Faleceu em 21 de junho aos 83 no Rio de Janeiro, Rose Marie Muraro. Rose tinha câncer na medula óssea há 10 anos e estava no CTI desde o dia 12. Rose Marie estudou física, foi escritora e editora de livros responsável por publicações polêmicas e contestadoras. Trabalhou com o intelectual Leonardo Boff na Editora Vozes durante 17 anos. Das ideias dos dois intelectuais nasceram dois dos mais importantes movimentos sociais do Brasil do século 20, a emancipação feminina e a teologia da libertação. Nos anos 80 quando a Igreja adotou uma postura mais conservadora passou a ser perseguida e foi expulsa como Boff da Editora Vozes por ordem do Vaticano; ela pela publicação do livro Por uma erótica cristã, ele, pela teologia da libertação.

A escritora nasceu praticamente cega, o que não a impediu de tornar-se uma intelectual respeitada. Aos 66 anos conseguiu recuperar a visão por meio de cirurgia, quando viu seu rosto pela primeira vez. Sua autobiografia Memórias de uma mulher impossível está entre as três únicas autobiografias de mulheres no Brasil.

Nascida em uma das famílias mais ricas do país nos anos 30 e 40, aos 15 anos com a morte repentina do pai e brigas pela herança, rejeitou sua origem e dedicou a vida à construção de um mundo "mais justo e mais livre". Nessa época conheceu o padre Hélder Câmara e se tornou membro de sua equipe. Os movimentos sociais criados por ele tomaram conta do país na década seguinte. Nos anos 60 o golpe militar teve como alvo além dos comunistas, os cristãos de esquerda.

Foi palestrante nas Universidades de Harvard e Cornell, entre outras 40 instituições de ensino americanas. Editou até 2000, o selo Rosa dos Tempos da Editora Record. Ganhou o prêmio Bertha Lutz (2008); foi eleita por nove vezes a Mulher do Ano; prêmio de Intelectual do Ano, da União Brasileira de Escritores, em 1994; Prêmio Teotônio Vilela do Senado Federal em comemoração dos 20 anos da anistia no Brasil, pelo trabalho de editora, um marco na história da resistência ao regime militar.

"Sei hoje que sou uma mulher muito bonita", disse ao recuperar a visão aos 66 anos. Nomeada patrona do Movimento Feminista Brasileiro pela Lei n° 11.261 de 30/12/2005. (Fonte: EM, 22/6/2014)